Uma deusa das cachoeiras (+18)
- piluladepoesia
- 15 de abr. de 2021
- 6 min de leitura
Eu estava esperando por aquela visita a Pirenópolis por semanas. Nunca havia estado em uma cachoeira e nunca havia viajado com um namorado, então, meus níveis de ansiedade estavam no teto. Naquela manhã, Ícaro estacionou o carro em frente ao portão de casa, parecia animado também, seus olhos brilhavam com expectativa.
– Eu tenho o pressentimento de que só vão acontecer coisas boas nessa viagem.
Disse ele com um sorriso doce que revelava suas covinhas.
A palavra “viagem” é força de expressão, uma vez que apenas cerca de 150 km e duas horas de carro separam o paraíso das cachoeiras que é Pirenópolis (GO) de Brasília. Faríamos um bate-volta, três dias só nossos. Com um enorme sorriso no rosto, Ícaro levantou a minha NADA modesta mala e a colocou no bagageiro, partilhamos um olhar cúmplice e seguimos para a pousada simples que tínhamos reservado.
O caminho foi prazeroso, quando não estávamos conversando animadamente sobre as coisas mais aleatórias do mundo (a foto do buraco negro tirada recentemente pela NASA, como aranhas não são insetos, mas sim aracnídeos e afins), estávamos ouvindo nossas músicas favoritas. Sentir-se tão à vontade ao lado de alguém era algo novo para mim e aquele momento era íntimo de uma maneira diferente, eu sentia a nossa conexão crescer e se expandir: ao mesmo tempo em que transbordava uma intensa afeição por Ícaro, eu sentia minha libido ser alimentada e incendiada por aqueles pequenos gestos. Ali, sentada no banco do carona, eu sentia meus mamilos endurecerem só de olhar para ele e meu clitóris inchado procurava alguma fricção contra a costura do short jeans.
Quando chegamos à pousada, guardamos cuidadosamente nossos pertences no quarto, que era simples, mas limpo e aconchegante. A visão da cama de casal parecia convidativa com seus lençóis brancos e perfumados de amaciante. Não sei bem o que deu em mim, mas depois de conferir minha mochila para o passeio na cachoeira, senti meu corpo me trair. Ícaro estava de costas, conferindo sua própria mochila com a camisa pendurada no ombro direito, apenas de bermuda. Passei meus braços ao redor de seu corpo torneado, sentindo o cheiro do protetor solar que ele já tinha aplicado. O gesto era terno e carinhoso, mas, no momento em que comecei a acariciar o peito e a barriga dele, uma nova urgência se apoderou de nós. Eu o ouvi respirar fundo enquanto me puxava para que ficássemos frente a frente. Minha pele seminua, coberta apenas por um biquíni florido, se fundiu à dele e o nosso beijo foi lento. As mãos de Ícaro apertaram os meus seios, senti a lubrificação se acumular entre minhas pernas. Ele me jogou na cama e pressionou o corpo sobre o meu, me beijando com sofreguidão. De repente, nossas posições se inverteram e eu fiquei por cima, ainda estávamos completamente vestidos, mas eu esfreguei meu quadril no dele como se não estivéssemos, cheguei a gemer graças à fricção do meu clitóris inchado sobre a ereção dele, foi como se tivéssemos voltado à adolescência. Subitamente, uma batida na porta nos despertou do nosso transe: o guia havia chegado! Nossa van para as cachoeiras já estava de saída! Com um sorriso meio frustrado, eu saí de cima dele e nós pegamos nossas mochilas.
Ícaro é biólogo e eu, historiadora, então eu acredito que não exista um passeio mais estimulante para nós dois do que visitar uma fazenda do século XVIII – cujas estradas escoavam metais preciosos nos tempos coloniais –, comer pratos típicos do estado de Goiás e caminhar numa trilha com mais de sete cachoeiras. Depois de um almoço farto e uma volta pela fazenda, seguimos para a trilha, imaginando (corretamente) que os 30 minutos de caminhada até a primeira queda d’água seriam suficientes para a digestão. Quando chegamos lá, eu quase derramo uma lágrima de apreciação: a cachoeira é linda, a queda não é tão alta e o poço de água que se forma abaixo dela tem uma aparência fresca e cristalina. Por todos os cantos, há árvores e plantas floridas e os borrifos da cachoeira criam um pequeno arco-íris. É melhor do que a minha imaginação jamais poderia criar. Banhamo-nos ali e seguimos por uma série de quedas menores, acompanhando o nosso grupo de turistas e o guia. Lá pela quarta cachoeira, eu decido que quero voltar à primeira, porque, embora cada queda d’água tenha o seu charme e beleza, nenhuma delas me cativou tanto quanto aquela. Ícaro concorda e refazemos o caminho até lá. Percebendo que temos o espaço paradisíaco apenas para nós, decidimos tirar algumas fotos. Um tempo depois, Ícaro tem a ideia de entrar embaixo da cachoeira, como a queda não é muito alta, a pressão da água que cairia sobre nós seria suportável.
– Vai ser como uma massagem nas costas.
Ele me diz com um sorriso doce. E não há nada que ele não consiga de mim quando sorri daquela maneira. Dando-lhe a mão, prossigo pelo caminho acidentado das pedras, é meio escorregadio, mas nada muito preocupante.
Ícaro tinha razão, deixar a água cair sobre meus ombros e costas realmente parecia uma massagem, mas o frio já começava a me dar arrepios, então, eu me recolhi um pouco numa reentrância na rocha, logo atrás da queda d’água. Ícaro faz o mesmo e, percebendo que eu estava tremendo de frio, me abraçou com força. Sentir o corpo dele perto assim reavivou a chama do meu desejo e eu comecei a me esfregar contra ele mais uma vez. Com um suspiro, ele prendeu os dedos nos meus cabelos molhados, me forçando a virar de costas para ele. Ele tem esse efeito mágico sobre mim, só precisa me olhar e me tocar para que eu fique mais úmida do que a cachoeira que nos cercava naquele momento. Eu sinto seus lábios quentes contra a pele arrepiada do meu pescoço, ele me beija, enquanto sua mão esquerda desce até a parte de baixo do meu biquíni, ele brinca com os dedos sobre o tecido molhado por um tempo, só para depois deslizar com a mão trêmula pelas reentrâncias do meu sexo. Seus dedos estão frios em comparação à minha excitação, isso produz um efeito mais estimulante ainda.
Eu sinto a ereção dele contra a minha bunda, firme e bem desenhada na bermuda molhada. Ele se insinua contra mim enquanto continua com sua lenta tortura dentro do meu biquíni. Decidindo mudar de tática, Ícaro introduz dois dedos, suavemente, medindo minha reação, acelerando os movimentos quando começo a gemer. Eu não posso mais suportar, com um movimento rápido da mão direita, puxo meu biquíni até a altura dos joelhos. Ícaro geme de encontro ao meu ouvido, ainda me tocando, brincando comigo, é um som animalesco, totalmente masculino e primal.
– Me come...
Digo quase como um suspiro.
Pelo que parece quase uma eternidade, Ícaro paira sobre mim, parece hesitar, mas um segundo depois, percebo que sua bermuda também está na altura dos joelhos.
– Quer mesmo fazer isso?
Ele pergunta com medo da resposta.
– Me fode...
Eu respondo sem pudor, nesse momento, sou puro instinto e desejo.
Ícaro me penetra devagar, centímetro a centímetro, com devoção. Eu apoio as mãos na pedra úmida à minha frente para nos dar algum apoio, enquanto ele faz movimentos de vai e vem desesperados, mordendo minha orelha e apertando meus seios. Esse é um prazer que nunca imaginei sentir, o corpo dele entrando no meu em estocadas cada vez mais profundas, unindo-nos em meio a um oásis de beleza natural. Ele retira a mão esquerda do meu seio e volta a brincar com meu clitóris, meus gemidos são abafados pelo barulho da água, mas ele não se importa, consegue sentir meu corpo, consegue sentir as pulsações desesperadas do meu sexo, cada vez mais intensas, cada vez mais perto do clímax. Ícaro me puxa para mais perto de si, sentindo meu orgasmo ordenhar seu membro. Ele também está perto, posso sentir, quando ele finalmente se derrama dentro de mim, consigo virar o rosto o suficiente para lhe dar um beijo, o mais apaixonado que já dei na vida.
–Você é uma deusa...
Ele fala de maneira vacilante, ainda pulsando dentro de mim.
Nesse momento, o mundo se resume àquele cachoeira, somos apenas nós dois, nossos corpos, nossas respirações sincronizadas e ofegantes. Uma gargalhada aguda vinda da trilha nos faz despertar do transe. Rapidamente, nos vestimos. Já dentro do poço, nadando como se jamais tivéssemos saído dali, Ícaro me abraça e, em meio aos nossos risos cúmplices e gargalhadas marotas, pela primeira vez na vida, sinto-me confortável para dizer essas palavras.
– Eu te amo.
Olho ao redor, o sol alaranjado está perto de se pôr, mas ainda assim, preenche a cachoeira de luz e cor, enquanto o arco-íris de mais cedo vai, pouco a pouco, se desfazendo nas gotículas cristalinas que respingam e borrifam da queda d’água. Libélulas e borboletas brancas parecem dançar ao redor daquela maravilha da natureza. Eu nunca estive tão feliz.

Foto: reprodução / Pinterest. Disponível em: <https://pin.it/5cI5Xyg>
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